sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Casos e acasos do Festival Naútico.

Por Ero Siqueira.
Neste ano, o investimento da Prefeitura de Alto Araguaia no Festival Naútico, em relação há outros anos, foi o melhor. Espaço mais amplo, palcos aprimorados, cantores que verdadeiramente animaram a galera, banheiros químicos espalhados pelo local do evento, e muita gente de fora. E para evitar acidentes e mortes no Rio Araguaia, como aconteceu no ano passado, onde um homem, com identidade não-identificada exagerou na bebida, caiu no rio, se afogou e posteriormente veio a óbito, pois não havia ali Salva-vidas para socorrê-lo; a prefeitura investiu, em cercas de proteção nas margens do rio.
Outro evento que acontecia no mesmo dia do Festival Naútico, foi o Festival Cultural (que de cultural só tem o nome). Como sempre em uma tenda escondida, lá na entrada no evento. Onde muitos nem davam a mínima. Por lá quem visitou, pôde conferir exposições de obras-de-arte, artesanatos, corte e costura de alguns artistas de Alto Araguaia. Também foi exposto o famoso queijo cabaçinha, de origem mineira, que ganhou algumas pitadas mato-grossenses. “Na verdade a diferença do cabaçinha de Minas com o de Alto Araguaia, só é o gosto. O daqui é mais salgadinho e gostoso” explica a moradora araguaiense Gilmara Santos da Silva.
Em outro cenário desse Festival, pudemos ver a satisfação de alguns comerciantes, e as insatisfações de outros. Quem arrecadou muito foram os setores de: bebidas, hotéis, supermercados, parques de diversão e alimentação. Por outro lado, o setor de roupas e acessórios saiu em desvantagem, pois uma semana antes do festival, a feirinha de Goiânia que vende sempre com preços baixos, estava em Santa Rita. Na mesma semana do Festival, ela estava em Alto Araguaia.
A mídia local investiu, em propagandas antes e depois do evento. Antes, pra deixar o povo ansioso pela chegada do Naútico. E depois, para anunciar o sucesso da festa, e os bastidores de “tudo” que aconteceu. “Tudo” não. Porque em contrapartida, a Prefeitura vem enfeitiçando os olhos de muitos. Investe no time da cidade e no Festival. Porém, ainda há famílias que suplicam para fazer parte de um programa social do governo federal ou municipal. Enquanto isso, aguardam ansiosos para terem o investimento que esses “meninos dos olhos” têm. Enquanto não chega, eles cataram latinhas no meio do povo, sujeitos a humilhações dos festeiros, prostituiram-se, roubaram, trabalharam, etc.
Por fim, a parte suja da festa sobrou para os garis limparem. Já o Rio Araguaia, recebeu mais lixos de presente. A grande festa era para ele, mas sequer foi lembrado.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Oração do Jornalista.

Escrita por Cid Moreira.


"Deus não deixe eu chegar atrasado à redação.Que eu possa Senhor cumprir minha pauta, conseguindo informações corretas e úteis, sem aparecer mais que o entrevistado.Que eu consiga uma boa fotografia.Que a câmera filmadora não falhe e o motorista esteja disponível.Senhor, tomara que a internet não saia do ar e que o meu editor não esteja de mau-humor.
Peço-lhe Senhor, muita paz e tranqüilidade durante a entrevista e discernimento para fazer a matéria justa e bem elaborada.Que o tempo seja suficiente para cumprir a outra pauta que me aguarda, logo em seguida,do outro lado da cidade. E que o meu trabalho contribua para diminuir a desigualdade social, e ajude a melhorar a qualidade de vida do planeta.Que eu entregue tudo a tempo e não sofra nenhuma agressão. Ou pior, seja alvo de uma bala perdida, virando notícia.
Que a matéria seja simples sem ser simplista.Que não seja prolixa e sim criativa.Que eu não cometa nenhum erro de português, Senhor, para não ser massacrado pelos colegas.Principalmente Senhor, que eu não caia no pescoção...que possa pagar minhas contas com esse salário e que nenhum jabá me seduza.E, finalmente, meu Deus, me ajude para que eu possa entregar tudo revisado e no prazo do dead line. Assim seja!"
"Amém" kkkk

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

HISTÓRIAS DE VIDAS INDIGNAS, LONGE DE TEREM UM FINAL FELIZ

Reportagem: Lucimara Pereira, Isaac Fernandes e Erotides Siqueira

Vinícius Araújo da Silva, cidadão araguaiense de apenas 12 anos, acorda todos os dias às 6h da manhã. Às 7h toma um pouco de café e come um pedaço de pão e já sai para a lida. Passa amanhã inteira vendendo picolé e lá pelas 11h encerra o serviço, lava-se rapidamente, veste o uniforme escolar e almoça um pequeno prato de arroz e feijão. Às 17h30, Vinícius está de volta. O jantar é tão fraco quanto o almoço. Às vezes Vinícius não agüenta e dorme durante as aulas.
Assim é a história de Vinícius, um enredo tão semelhante ao de milhares de crianças brasileiras, que por interesses mais diversos perdem seus direitos e sua liberdade. Perdem a chance de serem crianças e viverem como tal. Acabam curtindo pouco da infância, que termina geralmente aos 7 anos, quando vão trabalhar. Tornam-se uma criança-adulta, com apenas deveres e obrigações. “Eu sempre vi os meninos da minha idade ganhar tênis, comprar balinha, bolachas, vídeo-game e eu nunca tive essas coisas. Minha mãe trabalha e mal consegue por a comida dentro de casa, já meu pai nem sei por onde anda”, diz Vinícius que começou a trabalhar aos 7 anos.Hoje, com 5 anos no mercado de trabalho, não consegue comprar as coisas que deseja. Vendendo picolé diariamente, ganha em média meio salário mínimo por mês. O que ele recebe, dá a sua mãe, para comprar comida e assim sustentar ele e os seis irmãos menores, ficando apenas com alguns trocados. Mesmo com tanta dificuldade e com o pouco que sobra, Vinícius afirma que prefere trabalhar, pois ajuda no sustento de casa, e pode no fim do dia se distrair nas casas de jogos.Já Marquinhos de Oliveira, 8 anos, vive drama semelhante. Estuda de manhã. À tarde enfrenta o sol, vendendo pastel na rua. No final do dia, já cansado e com os pés doendo de andar, retorna para casa todo feliz com o dinheiro de mais um dia de serviço. Mas o que recebe mal dá para comprar um refrigerante. Dos R$ 3,00 que ganha por dia, apenas R$ 1,00 é dele. Quando questionado sobre o restante do dinheiro, diz: “Dou para a minha mãe comprar as coisas pra nós, pois lá em casa quase sempre falta comida”. Foi em um bar que aconteceu nossa conversa com Marquinhos, num lugar um tanto inadequado para uma criança de apenas 8 anos. Ele sentou-se e prontamente começou o diálogo conosco. Com o rosto ainda molhado de suor, ele seguiu contando a trajetória de vida. “Eu estudo na escola aqui da vila mesmo, acordo às 6h, me arrumo e vou pra lá”. Sem café da manhã, ele luta com o próprio estômago, “dói muito”. Nosso entrevistado enxuga o rosto, mais uma vez, e volta a falar: “Mal posso esperar a hora da merenda”.Fatos lamentáveis como esses apresentados já são tão rotineiros que passam despercebidos pela maioria das pessoas. As crianças trabalhadoras não têm tempo sequer para brincar ou praticar esportes. Realizando muitas vezes o trabalho de adultos, cumprem longas jornadas sem reclamar, e recebem menos de um salário mínimo.

Denunciar ou não?
A Constituição Brasileira, no artigo 27, diz que:“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à saúde, à educação, à alimentação, à dignidade, ao respeito, a liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-lo a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão”.O que fazer para garantir o direito de nossas crianças, diante da situação de marginalização social e econômica em que nosso país se encontra?O primeiro passo seria a denúncia – única maneira de acionar o Conselho Tutelar, órgão responsável por assegurar o direito da criança e do adolescente. “Nós trabalhamos mediante a denúncia. Uma vez feita, nós averiguamos e se for confirmada, afastamos a criança do trabalho e passamos o caso para promotoria”, afirma Polleyka Fraga, conselheira responsável pelo órgão.Em casos mais graves de exploração, onde criança trabalha 8h por dia, com o consentimento dos familiares, sem direito a educação e lazer, Polleyka diz que os pais perdem total autoridade sobre a criança. Porém a denúncia nem sempre irá ajudar a vida dessas crianças, à medida que torna seu drama conhecido. Tendo em vista que elas precisam trabalhar, até mesmo por uma questão de sobrevivência. Filhos de famílias pobres, muitas vezes sem ter o que comer em casa, têm no trabalho a única forma de ganhar o seu sustento. Uma vez denunciado, corre o risco de perder o emprego, tornando sua sobrevivência ainda mais difícil.Outra saída, a erradicação do trabalho infantil, também não é fácil. Há famílias cujo pensamento é de que a criança também tem que contribuir no sustento da casa, sob o argumento de que "o ócio é o pai de todos os vícios" ou "antes trabalhar do que roubar".Em função disso, os pais colocam as crianças à mercê da exploração da mão-de-obra infantil, e em momento algum consideram o esse trabalho prejudicial ao menor. A desigualdade social só contribui para que a prática se perpetue.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Intencional, oportuna, e arte. Assim é a fotografia.



Por Ero Siqueira.

"A fotografia é uma linguagem universal de um simbolismo enorme. Por meio dela eu tentei me aproximar das pessoas que estavam lutando por alguma coisa e dar oportunidade a elas de se exprimirem. No fundo, me considero mais um vetor do que um fotógrafo "artista" ou um criador. Meu trabalho mostra um lado da problemática e dá oportunidade às pessoas que não têm acesso a ela de enxergar. Busco trazer o problema para a casa dela e provocar um debate” diz Sebastião Salgado, fotógrafo conhecido no mundo todo pelo seu jeito único de fotografar.
Antes de ser técnica, intencional, artística ou oportuna, fotografar é uma forma divertida de registrar momentos, congelando para sempre um determinado instante de tempo.
Fotografia é, portanto, a expressão mais íntima do olhar do fotógrafo sobre o que ele vê. Os amadores podem até não saber, mas, por traz dos “flashes” há uma dominância de técnicas. Essas técnicas variam de uma simples textura e pode alcançar o foco da profundidade de campo. Em uma foto elementos como o ponto de vista, planos, perspectivas, luz/forma e tom, textura, linhas/formas foco/ profundidade de campo, o movimento e claro, uma câmera devem ser prioridades. Nada pode passar despercebido na hora de fotografar. Um sorriso, uma lágrima, um gesto, etc. tudo isso produz uma simbologia e pode gerar satisfação aos olhos de quem vê a foto.

Fotografia é arte e técnica ao mesmo tempo. Técnica, por que nela está presente toda uma produção para se chegar uma conclusão do que ela representa. Por outro lado, a foto também é arte, pois nela há a sensação de sentimento do fotógrafo pelo que fotografou, seja de uma árvore ou de um ser humano. Arte e técnica aliados passam para quem avalia, as ansiedades, prazeres e o que pensam o público a respeito de tal objeto.





Não existe a hora certa de fotografar. Talvez no ínicio, meio ou no fim do dia. Mas, nas redações de jornais persiste um “corre-corre” dos jornalistas e fotógrafos para passar a melhor impressão do que está sendo visto. Diante disso, fotografia também é intencionalidade e oportunidade. Intencional, pois, ao se fotografar, por exemplo, para uma matéria jornalística, a intenção é obter o melhor ângulo, para se ter a melhor imagem do que será escrito pelo jornalista. E a foto se torna oportunidade, pois ao escolher as melhores fotos, pode aparecer aquela que você nem planejou, mas deu certo. Sem se esquecer de valorizar linguagem fotográfica e a sintaxe visual. Dessa forma, assim com pensa Sebastião Salgado, foto é uma maneira dar oportunidades para as pessoas manifestarem seus sentimentos. Técnicas e criatividades aliadas a um bom olhar resultam na admiração do leitor.
Imagens: Sebastião Salgado.