domingo, 31 de agosto de 2008

"O Beijo nosso de cada dia".







Por Ero Siqueira.

“O primeiro beijo dado foi o sutil Sopro Vital do Criador; que com amor através da Respiração Divina nos deu o sublime Beijo, criando nossas almas e nossas vidas”, garante o livro de Gênesis. Em diversos lugares pode se ver um beijo. De diferentes formas: político ou amoroso, técnico, escandaloso e o comportado, o paterno e o materno, o de língua e selinho, o de tia e o de borboleta. Tem beijo de carioca, beijo de quem gosta, e até beijo de orelha. Depois tem o de foca, o de selar paz entre países, o carinhoso e seco, o esperado e o agressivo, tem o solidário e o fraterno. Tem o estralado, barulhento, e o silencioso, bem quietinho. Existe o francês, o nordestino, mato-grossense, goiano, paulista, paranaense, e muitos, muitos beijos por ai. Enfim, beijo para tudo e para todos.
No rosto, na boca, na mão. Nos pais, namorados, e nos “ficantes”. Para que ele seja dado, basta o casal estar “afim”. Esse ato simples está presente no nosso dia-a-dia. “Ele é responsável por uma avalanche de sentimentos e reações no organismo”, explica a psicóloga Marydiane Alves Borges Gonçalves. O beijo está ligado à felicidade, grandes emoções e altera o comportamento das pessoas. É curioso se falar dele.

"Pêra, uva, maça ou salada mista?” Essa brincadeira, fez parte da infância de muitas crianças. Com ela se escolhia qual o beijo queria ganhar, tudo muito inocente. Pêra dava-se as mãos, uva um abraço, maçã beijo no rosto, e salada mista era a mistura desses beijos. Os tempos passam, e as crianças crescem, as descobertas apaixonantes começam a surgir. “Agora o nosso negócio é “ficar”. Queremos é beijo de língua e curtir a juventude” afirma a estudante Caroline de Rezende Carvalho que é solteira.
Há alguns anos, o jornalista Pedro Paulo Carneiro lançou o livro Dossiê do beijo: 484 formas de beijar (Editora Catedral). Ele andou por diversos estados brasileiros e por diversos países do mundo entrevistando mais de 16 mil pessoas (Folha On-line). A idéia surgiu depois de ele ter dado o primeiro beijo, aos 12 anos de idade. De lá para cá, assunto para a sua obra não faltou. Ele utilizou a pressão, a respiração, salivação, posição da língua, e o gestual para encontrar as 484 formas de beijar. Segundo ele, já experimentou todos os tipos de beijo descritos por ele em sua obra.
Sabemos que o Brasil é conhecido pelas suas diversidades regionais. Em cada uma delas, o beijar para cumprimentar alguém é diferente. Há regiões em que se cumprimentam com três beijinhos, outras com dois, e até aquelas onde se costuma cumprimentar com um beijinho.
Um beijo nunca é igual ao outro. Há quem prefira beijar e só depois conhecer. Outros já são mais reservados, preferem conhecer e só depois beijar. É o “ficar”, uma explicação jovem, para dizer que não se tem compromisso com quem se está beijando.
Geralmente, as pessoas ficam tão ansiosas pelo primeiro beijo que ele acaba não sendo esquecido. Muitos acham que é necessário treinar para dar um bom beijo, colocam balinha dentro de um copo de água, ficam fazendo exercícios na frente do espelho, utilizam as mãos, e até a laranja. “Tudo que é novo, nos deixa ansiosos. Com o beijo não é diferente. Não é que isso seja bom ou ruim, faz parte da vida” pondera Borges Gonçalves. “O meu primeiro beijo foi bom e estranho. Ela usava aparelho. Aquilo me deixou com um pouco de medo. Depois rolou normalmente. Me lembro até hoje”, explica o adolescente Leonardo, que namora a menina do seu primeiro beijo até hoje. “Se casamento for bom, como foi o beijo. Em breve tem casório” sorri o jovem.
Não percebemos, mas, um simples beijo mexe com todos os órgãos do nosso corpo. Provoca alterações físicas nas pessoas. O encostar dos lábios é capaz de aumentar os batimentos cardíacos de 70 para 150 vezes por minuto, dilatar as pupilas, mobilizar 29 músculos, 17 linguais, elevar a pressão arterial, permitir a troca de 9 mg de água, 0,7 g de albumina, 0,18 g de substâncias orgânicas, 0,7 mg de gorduras e mais 0,45 mg de sais. Queima-se até 15 calorias num beijo de dez segundos. Daí, para detonar as calorias de uma fatia de bolo de chocolate, vinte beijos são necessários. Para queimar calorias de uma porção de lasanha, 107 beijos; um cachorro-quente, 24 beijos; um brigadeiro, quatro beijos; e um copo de suco de laranja, nove beijos.
Um beijo repassa às pessoas 250 vírus e bactérias diferentes, e traz uma série de benefícios à saúde que muitos especialistas talvez não sejam capazes de explicar. O dentista Paulo Rosseto de São Paulo, explica que o beijo não dá cáries como muitos pensam. “Para aparecer a cárie, é preciso haver alguns fatores. Um deles é uma bactéria conhecida como estreptococos mutans, que "mora" na boca de qualquer um. Mas nem por isso todo mundo tem cárie. Portanto, você pode até trocar bactérias com o parceiro ou a parceira. Mas sem "levar" uma cárie de brinde” explica o dentista.





Outro assunto que ultimamente preocupa os especialistas é a chamada, “febre do beijo”, provocada pelo vírus Epstein-Barr, transmitido pelo beijo na boca. O indivíduo pode permanecer com o vírus para sempre no organismo e transmiti-lo aos demais. Os sintomas dessa febre são: dor de garganta, perda de apetite, dor no corpo. Não há medicamentos específicos contra essa virose, nem vacina. Esse vírus é semelhante a uma gripe comum. “Quase todos os adultos já tiveram a doença do beijo e nem sequer sabem disso” explica o especialista em doenças infecciosas Alexandre da Cunha, do Instituto de Educação Superior de Brasília.
No Brasil, o dia do beijo é comemorado no dia 13 de abril. Beijar é algo especial, para meninos e meninas. Mas, na maioria das vezes, ele é mais levado a sério pela mulher. “A mulher beija com sentimento, mas isso não é regra. Os homens também se envolvem, mas a mulher com mais intensidade”, explica a psicóloga Marydiane Alves Borges Gonçalves. O beijo, além de tudo, está relacionado aos nossos sentimentos mais profundos. Embora não saibamos de onde aprendemos beijar, ele é algo que, por acaso e do nada, se aprende, e faz parte do nosso cotidiano. “Me sinto feliz, quando beijo. Beijo é mais que união. É troca. Troca-se prazer, cheiro, sentimento. Seja ele na face, na boca, na testa, ou na ponta do nariz” emociona-se Rita de Cássia.
“Beijar dá calafrio. Nossa, dá até vontade de ficar junto. Só pra beijar, beijar e beijar” suspira Paulo André, que é solteiro. Ele provoca calor. O tocar dos lábios dispara o coração e mexe com todos os órgãos do nosso corpo. Benefícios, o beijo traz em quantidade elevada. Não importa o jeito que é dado. Ele é capaz de despertar nos seres humanos, as mais incríveis reações positivas e aliviar qualquer depressão.

Erotides Siqueira.